Pedro Serrazina assume direção artística do CINANIMA

Pedro Serrazina assume direção artística do CINANIMA 2021
Pedro Serrazina (foto: jornal Maré Viva)

Pedro Serrazina, um dos mais conceituados realizadores do cinema de animação português contemporâneo e professor universitário com vasto trabalho de investigação na área e experiência internacional, é o novo Diretor Artístico do CINANIMA – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho.

Desde a sua fundação organizado em torno de um coletivo de voluntários, o festival acolhe agora um novo Diretor Artístico com um histórico de grande proximidade com o CINANIMA: o seu primeiro filme “Estória do Gato e da Lua” foi ali premiado pela primeira vez em 1995, e todos os anos em novembro foi regressando, tornando-se um dos principais amigos do festival.

Ao chegar à sua 45.ª edição, o CINANIMA marca, assim, um caminho de mudança em direção ao futuro, mas em harmonia com a identidade do festival e toda a filosofia que o caracterizou desde o início e que agora é potenciada e ampliada com a visão e experiência pessoal e profissional de Pedro Serrazina.

A visão estratégica de Pedro Serrazina para o CINANIMA passa por transformar o festival em algo que, de certa forma, era um dos seus desígnios desde o início: ser, mais do que um mero certame de exibição de filmes, um espaço de reflexão, produção e partilha de informação sobre o cinema de animação, enquanto arte e indústria, construído a partir das pessoas que visitam o festival e do valor que elas trazem de forma única e que só pode ser aproveitado num encontro desta natureza. Nas próprias palavras de Serrazina:

“O CINANIMA é uma referência no panorama do cinema de animação nacional, mas também um festival que precisa reinventar-se. Perante os desafios de um mundo cada vez mais digital, os eventos culturais precisam marcar a diferença pelo reforço de atividades que ultrapassem a sala de cinema tradicional: é necessário reforçar laços com a(s) comunidade(s) e assegurar experiências presenciais que seduzam o público a sair do conforto da sua sala de estar, para encontrar aquilo que não encontram em streaming: esse é o grande desafio dos festivais culturais, e um desafio a que o CINANIMA não pode fugir”.

Por isso, passam a integrar a edição do CINANIMA um conjunto de iniciativas que, ganhando novo protagonismo e relevo, mudam a forma de viver o festival e aquilo que dele pode resultar para o futuro: desde dois simpósios académicos (um, animaScapes, dedicado a práticas “activistas” da animação que respondem a temas contemporâneos como as questões de género, a discriminação ou a globalização; o segundo, dedicado aos Olhares sobre a animação Portuguesa, trazendo a perspetiva de outras disciplinas, como a sociologia e as ciências da comunicação, para o cinema de animação Português), a instalações no espaço público da cidade de Espinho, das tradicionais oficinas práticas com convidados internacionais envolvendo escolas portuguesas, a um encontro sobre o papel dos festivais de animação no contexto atual, tudo isto a par de uma série de outros momentos de conversa, discussão e estreitamento de laços entre artistas, outros festivais e estudantes.

Outro dos eixos prioritários de Serrazina é o envolvimento da comunidade local: “é fundamental que um festival como o CINANIMA, que se afirmou fora do circuito cultural das grandes cidades, cumpra o seu papel e reforce a ligação ao local onde nasceu, reencontrando a cidade e as gentes de Espinho, fazendo deles matéria de trabalho em projetos locais, seja workshops, sejam outros projetos educativos. Um festival de futuro tem de se relacionar com o seu lugar e a sua população – só assim pode reforçar a sua própria identidade”.

Esta preocupação de afetividade com o lugar, ecoa também um lado pessoal para Pedro Serrazina, para quem o CINANIMA tem ainda um significado muito especial: “Foi no CINANIMA que comecei a minha carreira como realizador, mas foi também aqui que descobri alguns dos nomes que ainda hoje tenho como referência e alguns como amigos pessoais. Tenho por isso uma relação muito forte com este festival que me marcou no meu crescimento como realizador e pessoa. E é esse tipo de experiência, de contactos e descobertas, que espero conseguir permitir que outros venham também a ter com os nossos eventos”.

Como explica o Presidente da Direção da Cooperativa Nascente, António Santos: “A necessidade de se proceder a uma renovação profunda de objetivos e práticas das edições anuais do CINANIMA era consensual e partilhada pela Câmara Municipal de Espinho, na qualidade de coorganizador do Festival. Sendo ponto assente que isso passaria pela indigitação de um Diretor Artístico, não foi difícil chegar ao nome de Pedro Serrazina, por preencher em pleno o perfil desenhado: alguém que tivesse uma carreira reconhecida como autor, que pudesse interagir com a área académica da animação e que conhecesse bem o CINANIMA.”.

Pedro Serrazina é realizador premiado de cinema de animação, professor e investigador. Desde a sua primeira curta, “Estória do gato e da Lua”, estreada em Espinho e depois, internacionalmente, no festival de Cannes, o seu trabalho tem várias expressões, entre a curta-metragem, as instalações “site-specific”, videoclips (para Samuel Úria, António Zambujo, Rodrigo Leão), workshops, publicações e projetos académicos, num percurso marcado pelas relações entre a arquitetura, o espaço público e o cinema de animação. Serrazina concluiu o grau de Mestrado no Royal College of Art, em Londres, como bolseiro da Fundação Gulbenkian e, como bolseiro da FCT, o doutoramento na Universidade Lusófona de Lisboa, onde leciona nos cursos de animação (licenciatura e mestrado). Foi diretor do curso de licenciatura em Animation Arts, na University for the Creative Arts, em Inglaterra, é membro da Society for Animation Studies e do comité científico do simpósio anual Ecstatic Truth, dedicado às relações entre cinema de animação e documentário, e está atualmente a preparar um novo filme, “O Que Sobra de Nós”. Nos tempos livres Pedro Serrazina é um ávido colecionador de vinil e novelas gráficas.