No ano em que o cinema de animação português alcança a meta dos 100 anos de existência, o CINANIMA espreita, com estima e respeito, os seus primórdios, tendo por referência a obra daquele que foi seu diretor durante mais de 30 anos, António Gaio: “História do Cinema de Animação Português” (2001).
Para melhor sabermos sobre este marco histórico, revisitamos esta obra, e lá encontramos menção a uma notícia que data de 1923, “a notícia dum “filme-charge de flagrante actualidade” sobre o “então presidente do ministério António Maria da Silva”, uma das personalidades políticas da época.
Apontado pelo “Jornal dos Cinemas” como sendo “a primeira película de desenhos animados”, falamos de “O Pesadelo de António Maria, realizado e ilustrado por Joaquim Guerreiro, “desenhador de “O Século”, “Ilustração Portuguesa”, “A Tribuna”, “O Zé” e a “Sátira”.
Quando António Gaio pesquisava sobre o tema, sem que houvesse rasto do filme, eis que descobre que o CINANIMA tinha, no seu espólio, cópias, ainda que incompletas, “dos desenhos com a decomposição dos movimentos”!
Os desenhos provinham de um alfarrabista e foi Oswaldo Sousa, da Humorgrafe, quem, primeiramente, os identificou e resgatou. Falou, então, com António Gaio sobre a possibilidade de uma reconstituição do filme.
Em 2001, António Gaio terminava de contar, da seguinte forma, este episódio tão marcante do cinema de animação: “Por desconhecimento do seu interesse e pouca disponibilidade económica para o efeito, os papéis ficariam arrumados à espera de melhores dias. Só quando travámos conhecimento com a notícia do filme de Joaquim Guerreiro e nos lembrámos dos desenhos dum “António Maria” que tínhamos guardado, chegámos à conclusão de que estava nas nossas mãos o feliz encontro com o filme de animação português com uma particularidade muito especial. Referimo-nos à sua característica feição política, ao comentário da realidade social do seu tempo que só muitos anos depois tornaria a aparecer no nosso desenho animado.”
Em 2006, o produtor e realizador Paulo Cambraia, reconstituiu o filme, com a produtora Megatoon e Aura Studio, versão sonorizada com um improviso ao piano do Maestro António Victorino d’Almeida, tendo sido exiibido na 25ª edição deste Festival.
Hoje, dia 25 de fevereiro, 2023, no Batalha Centro de Cinema, às 21h15, a Casa da Animação promove um programa comemorativo onde terá a oportunidade de (re)ver este e outros filmes portugueses que marcaram o arranque desta forma de arte em Portugal.

Referência bibliográfica:
GAIO, António. “História do Cinema Português de Animação”, Odisseia nas Imagens. Porto, 2001.